Folha
de Pernambuco
Marcos
hermes/Divulgação
Álbum
coloca a cantora à frente de um “punk samba” empoderador e conectado
A disposição e a
ousadia de Elza Soares indicam que ela jamais saiu da juventude vibrante que
incendeia o álbum “A Mulher do Fim do Mundo”, lançado no ano passado já como
clássico. Produzido pelo baterista Guilherme Kastrup e composto pelos
paulistanos Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Rodrigo Campos e Rômulo Fróes, que
também se destacam no cenário nacional com o Metá Metá e Passo Torto, o álbum
coloca a cantora à frente de um “punk samba” empoderador. A base do discurso
politizado que permeia o primeiro trabalho de inéditas da carioca, em mais de
seis décadas de carreira, está na sua própria história, marcada pelo sucesso,
mas também por tragédias como a fome e a violência doméstica. No auge da sua
experiência, Elza vem do fim do mundo com o compromisso de cantar até se
acabar, promovendo uma espécie de superação coletiva. Esta noite, a cantora
leva essa missão para o Palco Mestre Dominguinhos, como atração principal do
dia, no Festival de Inverno de Garanhuns. Além dela também cantam Andrea
Amorim, Larissa Luz e Karina Buhr. Em conversa com a Folha de Pernambuco, ela
falou sobre a proposta do álbum, sua repercussão e engajamento.
Assim como você já foi nome de destaque, também atravessou um período esquecida pelas gravadoras. Como é ser a dona do disco mais impactante dos últimos anos de forma praticamente independente, sendo financiada pelo edital da Natura Musical?
É uma delícia ser reconhecida por um trabalho provocador como “A Mulher do Fim do Mundo”. Quando a proposta apareceu, a ideia era fazer releituras. Até que o Kastrup levantou a bola: “mais um disco de versões?”. Os meninos maravilhosos de São Paulo entraram juntos nessa comigo e fizemos este disco, que é o meu primeiro trabalho de inéditas. Eu disse pro Kastrup que queria falar da negritude, de sexo, da mulher. E é bem isso.
Como enxerga o mercado independente?
Houve um tempo em que independente era um termo relacionado à precariedade. Mas todos esses nomes envolvidos em “A Mulher do Fim do Mundo” circulam no meio independente e têm obras relevantes para o País todo. As coisas mudaram, e pra melhor!
O show de “A Mulher do Fim do Mundo” foi feito para a rua?
O primeiro show de “A Mulher do Fim do Mundo” foi no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, num formato de plateia sentada! A experiência de fazer o show com um público em pé foi uma transformação plena. O show com plateia de pé ganha outra dimensão. O passo seguinte foi fazer na Virada Cultural de São Paulo, que aí, sim, foi na rua. Foi emocionante, porque o conteúdo de “A Mulher do Fim do Mundo” é bem urbano, tem a ligação do conteúdo e dos músicos com a cidade também. Agora, a ideia é gravar o DVD “A Mulher do Fim do Mundo” numa comunidade. Acho que será o show mais representativo. Quero levar esse show e essas músicas para o lugar de onde vim...
Esse disco foi imediatamente assimilado pelo feminismo, mas algumas feministas andam questionando o discurso porque o núcleo de compositores é feito por homens. O que acha dessas críticas?
Se eu tivesse a oportunidade de dizer algo sobre essas críticas, seria: cale a boca. Parece gente que não tem o que fazer.
Para você, homens também podem participar da luta feminina? Se sim, de que forma?
Claro que podem. Mas nunca devem estar à frente da luta, pois se lideram acabam nos silenciando. A melhor forma é esta: apoiando.
Como se aproximou dos músicos que participaram do disco?
O Kastrup fez toda essa ponte. Ele detectou que teria uma proximidade entre eu e esse grupo de meninos de São Paulo que pensam o samba de um jeito muito particular e maravilhoso. Virou esse punk samba, um trabalho ousado. A ousadia que me mantém viva!
Além de participar ativamente no Facebook, agora também é Youtuber. Como é a sua relação com essas tecnologias?
Eu AMO. A “Mulher do Fim do Mundo” me apresentou para um público muito jovem, que se identifica comigo. Quisemos nos aproximar ainda mais do público. Eu sou do povo, quero estar com o povo, e a tecnologia me aproxima dele.
Você costuma usar essas mídias para expor suas opiniões, geralmente abraçando a causa feminista e negra. Essa militância é algo que vem ficando cada vez mais evidente nos últimos anos. Sempre teve clara consciência da opressão que o negro e a mulher sofrem?
A mulher ainda sofre muito. E o pior: escondida e calada. A música “Maria da Vila Matilde” é um hino, um incentivo, uma denúncia: TEM QUE DENUNCIAR. Mulher tem que gemer só de prazer.
Esta será a primeira vez que o show vem para Pernambuco. Há previsão dessa apresentação ir para o Recife?
Meu bem, estou doida para mostrar esse show no Recife e no Nordeste inteiro. Tem sido muito intenso viajar pelo Brasil. Quero cantar até o fim.
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